voltar
Ambiguidade

Viés do Colecionador: O Poder da Escassez no UX

Colecionar coisas ou experiências é uma necessidade emocional. No design, este é o viés do colecionador.

Você provavelmente teve várias coleções de álbum de figurinha da copa do mundo até Pokémons. No design, chamamos isso de viés cognitivo do colecionador.

Crie produtos e tangibilize experiências de forma a gerar colecionáveis, NFTs atualmente são uma das inúmeras formas de gerar isso, no entanto desde o jurássico FourSquare as pessoas já colecionavam badges por aí e inclusive disputavam quem tinha a maior quantidade e as mais raras.

Escassez (tiragem) e conjuntos identificáveis (Ex: 1/100) são fatores críticos na mecânica de colecionáveis.

Teoria do Viés do Colecionador

O Viés do Colecionador é um fenômeno psicológico que impulsiona nossa necessidade de colecionar e completar conjuntos. No contexto do UX Design, este viés pode ser estrategicamente utilizado para criar experiências mais envolventes e memoráveis, incentivando o engajamento contínuo dos usuários.

O que é o Viés do Colecionador?

O Viés do Colecionador é uma tendência comportamental que nos leva a atribuir valor especial a conjuntos de itens ou experiências, especialmente quando são parte de uma coleção identificável. Este viés está profundamente enraizado em nossa psicologia e se manifesta através do desejo de completar séries, adquirir itens raros e construir coleções significativas.

Fatores que Impulsionam o Viés do Colecionador

Completude

  • Desejo de completar conjuntos.
  • Aversão a lacunas em coleções.
  • Satisfação ao alcançar totalidade.

Raridade e Escassez

  • Valorização de itens limitados.
  • Atração por edições especiais.
  • Desejo por itens exclusivos.

Conexão Emocional

  • Vínculo com itens colecionados.
  • Memórias e significados pessoais.
  • Senso de identidade.

Fundamentos Psicológicos e Experimentos

Pesquisa de Wilson

Descoberto em 1989 por Robert Wilson, o estudo envolveu dois grupos: colecionadores de moedas e não-colecionadores. Ao estimarem o valor de uma coleção de moedas, os colecionadores superestimaram significativamente seu valor.

Isso evidencia um viés cognitivo em colecionadores, levando-os a exagerar o valor de seus itens de interesse, especialmente quando há ligação emocional.

  • Os colecionadores tendem a superestimar o valor dos itens que colecionam.
  • O viés do colecionador é mais acentuado quando há uma conexão emocional com os itens colecionados, amplificando a percepção de valor de um objeto. Isso se dá pelo fato de que o vínculo emocional pode intensificar ainda mais o valor percebido.
  • O viés do colecionador pode levar a decisões ruins, como pagar demais por itens ou recusar a venda de itens sem valor. Isso acontece porque os colecionadores podem estar dispostos a pagar mais por um item do que ele realmente vale, devido ao desejo de possuí-lo.

Experimento de Norton

Um estudo importante que se relaciona diretamente com o comportamento colecionador, demonstrando como o esforço investido aumenta o valor percebido. As principais descobertas foram:

Valorização pelo Esforço

  • Pessoas valorizam mais itens que ajudaram a construir/completar.
  • O esforço para completar uma coleção aumenta seu valor percebido.
  • A satisfação é maior quando há envolvimento ativo.

Implicações Comportamentais

  • Maior apego emocional a coleções que exigem esforço.
  • Disposição para pagar mais por itens que completam conjuntos.
  • Senso de realização ao completar coleções desafiadoras.

Este experimento é especialmente relevante para UX Design pois mostra como o envolvimento ativo dos usuários na construção de coleções pode aumentar significativamente o engajamento e a satisfação.

Viés na prática

  • 01

    A funko vende uma variedade de personagens e itens colecionáveis que são populares entre os fãs de cultura pop e entretenimento. Esses produtos são projetados para serem atraentes e colecionáveis, e muitas vezes são lançados em edições limitadas, o que aumenta ainda mais seu valor percebido e vontade de colecionar.

  • 02

    Magic: The Gathering é indiscutivelmente um dos jogos de cartas mais icônicos e lendários de todos os tempos. Em uma colaboração com O Senhor dos Anéis, foi lançada uma coleção de cartas temáticas do universo da saga. No entanto, o que verdadeiramente capturou a atenção dos apaixonados e colecionadores de Magic, foi a carta especial e singular do Anel do Poder, da qual existe apenas uma cópia em todo o mundo. Em 2023, essa raridade foi adquirida pelo valor de $2,6 milhões de dólares pelo artista Post Malone.

  • 03

    O Pokémon GO revolucionou o conceito de colecionismo digital ao combinar realidade aumentada com o forte apelo nostálgico da franquia Pokémon. O jogo implementa múltiplas camadas de coleção: além dos próprios Pokémon (com variantes brilhantes raras e edições especiais), os jogadores colecionam medalhas por conquistas, itens cosméticos para seus avatares e até registros de locais visitados no PokéDex. O sistema "shiny" do jogo, que apresenta versões extremamente raras de cada Pokémon (cerca de 1/500 de chance de encontro), cria um nível adicional de colecionismo que mantém jogadores engajados mesmo anos após o lançamento.

  • 04

    O Foursquare foi pioneiro na gamificação de check-ins através de seu sistema de badges, transformando atividades cotidianas em conquistas colecionáveis. Os usuários podiam ganhar badges exclusivos por ações específicas, como visitar determinados tipos de locais em sequência ou fazer check-in em horários incomuns. O "Crunked Badge", por exemplo, era conquistado ao fazer check-in em 4 lugares diferentes em uma noite, enquanto o "Swarm Badge" requeria 50 pessoas fazendo check-in simultâneo no mesmo local. Esse sistema não apenas incentivava a exploração urbana, mas também criava uma competição social onde usuários buscavam badges raros para exibir em seus perfis.

Considerações, Práticas e Tendências

Ao aplicar o Viés do Colecionador no UX Design, é crucial considerar as implicações éticas:

  • Valor Real: Garanta que os itens colecionáveis ofereçam valor genuíno aos usuários.
  • Transparência: Seja claro sobre a raridade e disponibilidade dos itens.
  • Equilíbrio: Evite explorar tendências compulsivas de colecionismo.

O Viés do Colecionador é uma ferramenta poderosa no arsenal do UX Designer. Quando aplicado de forma ética e estratégica, pode criar experiências envolventes e memoráveis, incentivando um engajamento saudável e satisfatório.

Compreender este viés cognitivo permite aos designers criar sistemas de recompensa mais efetivos e significativos, sempre mantendo o foco no benefício real para o usuário.

Melhores Práticas

Design de Colecionáveis

  • Crie conjuntos identificáveis e coerentes.
  • Estabeleça níveis claros de raridade.
  • Ofereça meios de rastreamento e exibição.

Mecânicas de Engajamento

  • Desenvolva sistemas de progressão claros.
  • Implemente recompensas significativas.
  • Crie momentos de descoberta e surpresa.
  • Facilite o acompanhamento de coleções.
  • Permita compartilhamento social.
  • Mantenha o equilíbrio entre raridade e acessibilidade.

Tendências Futuras

  • NFTs e colecionáveis digitais.
  • Propriedade verificável.
  • Escassez digital autêntica.
  • Novas formas de colecionismo.
  • Colecionáveis no mundo real.
  • Experiências híbridas.
  • Interação social aumentada.

Referências bibliográficas

Viés de Autoridade: Conhecimento e Poder no Design

Sempre tendemos a obedecer figuras de autoridade, e no UX design isso não é diferente.

ler artigo

Prova Social: Conforto e Influência no Design

O viés de prova social é um comportamento “modelo” que acaba baseando a tomada de decisões.

ler artigo

Viés de História: Experiências Confiáveis com UX

Nós tendemos a acreditar e confiar em quem divide experiências e conta histórias. Por sua vez, o viés de história transmite isso de forma clara no UX design.

ler artigo